Em épocas de crise, famílias da Capital sentem na pele a dificuldade de quitar suas dívidas. Quando o desemprego bate à porta dos cidadãos que dependem exclusivamente do salário mensal, as prestações de imóveis são as primeiras a atrasar. A prioridade torna-se, a partir de então, o pagamento dos serviços básicos para sobrevivência, como alimentação, gás, água e luz.
Ciente dessa situação de vulnerabilidade, a Agência Municipal de Habitação (EMHA), sensibilizada pelas histórias de milhares de mutuários que enfrentam a dura realidade de não poder colocar em dia os seus contratos, elaborou um plano para auxiliar àqueles que necessitavam de refinanciamento, mas com condições em que as prestações pudessem ser pagas mensalmente.
O Refis da Habitação transformou a vida de 16 mil mutuários, que vieram até à Agência renegociar suas dívidas, de 19 de novembro do ano passado a 15 de janeiro desse ano. A campanha foi amplamente divulgada em vários canais de comunicação, convidando as pessoas para que viessem até à sede da EMHA verificar como poderiam ser ajudadas a colocar as suas parcelas em dia.
Claudina de Souza dos Santos, 54 anos (doméstica, mas desempregada no momento), junto com o marido, Heleonaldo Rodrigues dos Santos, de 67 anos, viram no Refis oportunidade única de refinanciamento em meio a um período difícil de crise vivido pelo casal.
“Não queríamos que chegasse nessa situação de ficar devendo à EMHA. Mas a gente depende exclusivamente do salário e tem despesa de tudo. Eu, por exemplo, não trabalho mais porque não aguento, pois surgiu um problema na coluna e tive que parar de fazer as diárias. Meu esposo é aposentado, então vivemos do salário dele. Mas, fomos tão bem atendidos pelo pessoal da EMHA. Por isso, estamos muito felizes. Resolvemos nossa situação e agora vamos deixar tudo em dia”, relatou, satisfeita de poder regularizar as prestações de sua casa, localizada no Conjunto Francisco José Marques Helney, Jardim Centenário.
Alívio e sensação de segurança
“Sabemos que quando arrastamos dívidas vencidas, não conseguimos ficar em paz”. Foi o caso de Marileide de Morais Ferreira, 39 anos. Com a chegada de sua bebê, há 4 anos, ela teve que pedir as contas do serviço para cuidar da filhinha. O marido, servente de pedreiro, não possui carteira assinada e recebe por diárias, nas obras que consegue no segmento da construção civil.
“Meu marido não é registrado. Então, ele trabalha quando surge uma obra; quando não tem, ele não trabalha. Teve vezes em que ficamos mais de um mês sem pagamento nenhum, sobrevivendo como podíamos. Mas agora estamos nos adaptando. O Refis foi uma grande oportunidade para a gente poder colocar as nossas prestações em dia, porque já não conseguíamos mais dormir direito”, desabafa a moradora do conjunto Vida Nova I.
Um pouco mais acostumado sem o pagamento fixo de trabalho, o casal foi se adaptando até decidir entrar no programa de refinanciamento de dívidas da EMHA. “Agora, me sinto até mais segura, sabendo que nosso contrato está em dia. Já pagamos a prestação de janeiro e vamos buscar nosso carnê em fevereiro. Conversei com o meu esposo: nossa ideia é pagar duas prestações ou mais por mês, pois se surgir outra situação como aquela que passamos, nós conseguiremos evitar de criar mais uma dívida”, explicou Marileide.
Atendimento humanizado
O diretor-presidente da EMHA, Enéas Netto, destaca que toda a equipe passou por treinamento específico para encontrar soluções caso a caso, a fim de ajudar essas famílias que possuíam dívidas que chegavam a quase 6 mil reais. “Conseguimos refinanciar 16 mil contratos e resgatar 9 milhões de inadimplência declarada junto à EMHA. Claro que todo esse montante não foi recebido em espécie, mas só pelo fato de fazer a novação dessas dívidas, nós já temos recurso sinalizado para poder elaborar novos programas habitacionais”, constatou.
No total, 1.053 contratos foram refinanciados e 1.038 contratos foram inteiramente quitados. Muitos mutuários pertencentes à carteira imobiliária da Agência também aproveitaram o 13º salário para eliminar as dívidas, a fim de começar 2019 com outra perspectiva de vida.
“A EMHA tem essa característica de pensar no lado humano de maneira diferente. Além de conceder o benefício da moradia social, com o Refis nós também demonstramos a nossa preocupação com a situação financeira dessas famílias. Claro que é preciso reaver a dívida para ajudar mais pessoas que ainda não possuem uma moradia digna. Entretanto, amparar aqueles que já foram beneficiados, mas que no momento passam por graves dificuldades de toda ordem, também é o nosso papel. Por isso esse programa foi um sucesso”, finalizou Enéas Netto.