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A Ausência de Leitura – Consequências para a Sociedade, Por Bento Adriano Monteiro Duailibi

Bento Adriano Monteiro Duailibi, Advogado, Professor Universitário, Pós Graduado em Direito Civil e Metodologia do Ensino Superior,  Membro da Academia Maçônica de Letras de MS.


Tenho observado há alguns anos que o hábito da leitura está diminuindo de forma assustadora em nossa sociedade. É bastante visível que atualmente a prática da leitura não é valorizada como instrumento de crescimento profissional e principalmente pessoal. Embora o avanço da tecnologia faça com que cresçam meios de comunicação de fácil acesso e todo tipo de conhecimento, a maioria dos jovens não sabem usufruir bem desse meio para checar as informações que lhe são uteis.

                            A escola tem um papel imprescindível na formação de leitores competentes, reservando na elaboração de projetos pedagógicos e organização curricular um espaço especialmente para a leitura, promovendo atividades focando nessa prática, mas isso não está sendo observado como se deve, ou porque não há uma fiscalização dos órgãos de controle, em especial do Ministério da Educação ou das Secretarias de Educação Estaduais e Municipais. Os jovens não leem, principalmente porque não são estimulados. Esse hábito deve vir, em primeiro lugar, de casa. Pais que tem o hábito de ler estimulam seus filhos, e isso passa de geração para geração. O avanço da tecnologia também contribui para que o número de leitores caia cada vez mais.

                            As crianças e os jovens andam muito ocupados nas redes sociais, se interessando muito mais pelos bate-papos, pela internet, pelos games e vídeos disponíveis, do que pelos inúmeros materiais úteis e de grande valor que a internet possibilita. Precisamos reverter esse quadro. A prática da leitura diária em sala de aula é um bom começo, porém, ela só terá resultado prático se os alunos não a verem como uma obrigação. Também em casa, o estimulo à leitura tem que começar cedo, mas não como uma imposição e sim como uma opção.

                            Em vez de dar presentes como vídeo games, notebooks, tabletes entre outros, que tal uma coleção completa de Monteiro Lobato ou para os jovens as obras de Jorge Amado? Isso seria uma estímulo à leitura.

                            Recordo que, quando cursava o antigo “ginásio”, hoje ensino médio no “Colégio Dom Bosco”, no início do ano letivo já recebíamos a “lista” de obras a serem lidas no decorrer do ano, e que seriam objeto de avaliações a cada dois meses, era a nota da disciplina de Literatura. Lembro de ter lido vários livros da coleção “Vaga Lume”, ou ainda a série “Para Gostar de Ler”, ambas da editora Ática, que trazia autores como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga entre outros.

                            Esta série, inclusive merece destaque, pois coleção “Para Gostar de Ler” foi uma das mais bem sucedidas estratégias editoriais no país. Destinados a estudantes do Ensino Fundamental e Médio (ginásio à época), os pequenos livros de crônicas marcaram uma geração e até hoje são lembrados com muita saudade por aqueles que deram os seus primeiros passos na literatura através de suas edições. 

                            A primeira edição saiu em 1977 com uma gigantesca tiragem de 100 mil exemplares. Na introdução, o livro deixava claro que não pretendia ensinar gramática ou redação, mas apenas convidar o estudante a conhecer o mundo da leitura. A aceitação foi imediata e a editora teve que tirar mais uma edição, de 150 mil exemplares, para conseguir atender o público.

                            O que se observa, nos dias atuais é a total falta de comprometimento dos pais e da escola em dar condições para que a criança seja estimulada a ler e “viajar” na imaginação, talvez por comodidade, talvez por abraçar e ceder ao avanço da tecnologia. O que pode ser constatado, é que crianças com tenra idade “manuseiam” o telefone celular dos pais (com a permissão deles) e ficam horas presas a jogos e vídeos. Por certo uma comodidade, a criança quieta, sem fazer “bagunça”, mas o que ela está filtrando para si?

                            As consequência são graves, pois durante 21 anos ministrei aulas em curso superior em algumas Universidades de Mato Grosso do Sul, sempre nos cursos de Direito e Administração de Empresas, e não poucas vezes me deparei com situações inusitadas em sala de aula e mesmo corrigindo as provas. E se percebe que por pura falta de leitura, a língua portuguesa verdadeiramente destruída, a total ausência de raciocínio lógico na leitura de um dispositivo legal (leis, códigos, entre outros).

                            Creio ser este um momento positivo para rever alguns conceitos, pois se inicia um novo governo e o Ministério da Educação (MEC) poderia desenvolver políticas públicas voltadas e este tema e estimular os pais e principalmente a escola, agora de ensino fundamental, a ter em seus currículos disciplinas voltadas especificamente para a leitura.

                            O nosso país não pode demonstrar o fracasso na educação através do hábito (ou falta dele) de leitura dos brasileiros. Mas a verdade é que a população quase não lê e praticamente não possui hábitos culturais, como ir a exposições, participar de concursos literários, ir a peças teatrais, por exemplo. A falta de leitura, faz com que as pessoas diminuam sua capacidade de compreensão e a capacidade de escrever, coisa que os países mais bem desenvolvidos do mundo sabem e procuram, através de várias ações não deixar isso acabar.

                            É de conhecimento de todos que 70% da população brasileira não lê um livro sequer ao longo de um ano. Além disso, em uma pesquisa realizada pela agência britânica NOP World, dos trinta países que participaram o Brasil está na 27ª colocação em relação a hábitos de leitura. A Índia, de forma surpreendente está em primeiro lugar, pois sua população tem o habito de ler cerca de 10 horas semanais contra apenas 4 horas da nossa.

                            A falta de hábito de leitura dos brasileiros está relacionada principalmente a aspectos culturais do nosso país. A cultura da oralidade, predomina sobre a escrita. Além disso, falta incentivo por parte das entidades governamentais. Outro grande problema está nas mídias: o brasileiro prefere assistir um programa de televisão, ouvir rádio ou acessar a internet a ler.

                            O hábito de leitura é essencial para melhorar o desenvolvimento cognitivo, em especial dos jovens. Incentivar a leitura é fundamental para melhorar o desempenho educacional de toda uma população, bem como desenvolver sua capacidade de raciocínio, análise e debate sobre os mais variados assuntos. Incentivar a leitura em casa e nas escolas é uma boa alternativa, assim como, quem sabe, incluir a disciplina de “Leitura” no currículo escolar. O resultado com certeza vai ser extremamente positivo, com um salto cultural grande, o que será benéfico para toda a sociedade brasileira, em um futuro próximo.

Bento Adriano Monteiro Duailibi, Casado, Formado pela FUCMAT/UCDB em 1991.

» Advogado militante OAB/MS 5452 – Sócio da Empresa de Advocacia BC&D – Bastos, Claro e Duailibi Advogados Associados S/C.

» Assessor do Tribunal de Contas do Estado de MS de 1993 a 2006.

» Conselheiro do TAT – Tribunal Administrativo Tributário de MS de 2001 a 2004.

» Presidente da Comissão de Patrimônio Público da OAB/MS de 2004/2006.

» Relator Auxiliar do TED – Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/MS de 2001/2003.

» Conselheiro Estadual da Seccional de MS (OAB/MS), eleito para as gestões de 2010/2012 e 2016/2018. 

» pós – graduado em Metodologia do Ensino Superior em Direito, 

» pós – graduado e mestre em Direito Civil

» Professor Titular das Cadeiras de Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado da Universidade Anhanguera/Uniderp de 1998 a 2016.

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