Geral

Adeus

Caros amigos, familiares e colegas do Esporte Clube Comercial,

É com uma mistura de emoções que me dirijo a todos vocês hoje. Após uma jornada intensa e apaixonada, despeço-me formalmente do clube que tanto amei e pelo qual dediquei grande parte da minha vida. Foram mais de dez anos de dedicação, lutas, vitórias, e derrotas que, inevitavelmente, me moldaram como pessoa e como profissional. Cada momento vivido ali foi uma grande lição. Aprendi que o futebol é mais do que um jogo; é uma comunidade, uma família unida pela paixão e pelo compromisso com o futuro de um sonho.

Nesta semana me desfiliei formalmente do clube que eu amo, que já chorei por várias vezes sozinho, voltando para casa nesses últimos anos por não poder fazer nada mais do que eu podia ter feito, ser eu mesmo, crítico e coerente com que eu acredito. Clube que sempre honrei e conduzi da melhor forma possível,  de maneira democrática como acredito como as coisas devem ser, isso sempre fará parte da minha história, mas me despeço por achar que já contribuiu com que eu podia, com parte da minha vida, e o tempo é algo que não volta, relacionamentos, filho, festas, estudos, viagens e tudo que me abdiquei de alguma forma para pensar o Comercial-MS, dinheiro vai, se trabalha mais, se conquista, se recupera, o tempo, não!

Vindo de uma família comercialina, lembro-me, com carinho, quando o entusiasmo quando estava nas categorias de base ainda na Vila Olímpica da Brilhante, com professor Ferrinho, mas felizmente troquei os gramados pelos tatames, pois era melhor com kimono do que com a bola nos pés. Esse início, nos grupos de discussão no Orkut, que depois me levou presidir a torcida organizada Falange Vermelha, e posteriormente, a assumir diversos cargos de assessor de comunicação, diretor das categorias de base, tesoureiro até chegar a presidência do clube ajudando na gestão milagrosamente campeã de 2015 e vice campeã de 2016. De 2014 em diante, foram tempos de muitos desafios, derrotas, mas também de vitórias. Essas conquistas não foram somente do clube; foram de todos nós que acreditamos e lutamos naquela época por esses ideais.

Após a conclusão da era Turqueto, o Comercial enfrentou desafios imensuráveis, parecendo estar entregue ao acaso. No entanto, a chama da esperança jamais se extinguiu, esperando um milagre, que pudesse resgatar a glória do clube.

Persisti, lutando incansavelmente por aquilo que acreditava ser o destino merecido do clube. Nesse período, tive a honra de liderar um movimento de resgate da memória do clube, trabalhando ao lado de figuras emblemáticas do futebol de base do Comercial e amantes do esporte: Mauro Belarmino, Coronel Sidinei, atual presidente do Rádio Clube, Edvaldo Arakaki, o exímio presidente do Colorado, Paulo Mansano, Heraldo Miranda, Dr. Trombini, o bom e velho David e o grande parceiro Marcelo Rodrigues. Unidos, revitalizamos a categoria de base do clube. Embora não tenhamos alcançado títulos na base naquele momento, nossa dedicação frutificou no retorno à Copa São Paulo após anos de ausência, e na revelação de talentos que posteriormente levaram o clube a triunfos significativos, incluindo o campeonato de 2015 e o vice-campeonato de 2016. Esses jogadores, como Luan e Matheus, seguiram em frente, trilhando caminhos de sucesso pelos clubes por onde passaram.

Minha gratidão se estende imensuravelmente a cada jogador, técnico, funcionário, sócio e torcedor que compartilhou esta jornada comigo. Retornando de Brasília em 2013 para defender a assessoria de comunicação do clube que sempre esteve em meu coração, não por dinheiro, mas por convicção de que poderia contribuir de maneira única e significativa para o clube, especialmente durante a promissora co-gestão com o grupo Zahran, um período em que nada nos faltava, exceto um pouco mais de sorte.

Nossa equipe, repleta de talentos locais daquela época – destacando-se o goleiro Rodolfo, Careca, Jorginho, Dubinha, entre outras estrelas – enfrentou desafios formidáveis, batalhando desde o primeiro jogo contra o Cene até a luta contra o rebaixamento. Cada detalhe, desde a aquisição de um novo ônibus até a garantia de salários em dia e uma infraestrutura de qualidade, contribuía para nossa jornada. Sob a liderança técnica do excepcional Mirandinha, bi-campeão pelo CENE.

Não posso deixar de mencionar as figuras marcantes dessa era: o professor Amarildo Cruz, nosso diretor de futebol, o indispensável Manolo, a amável Dona Beth e seu companheiro, o leal Esquerdinha e sua família, o professor Paulinho, Vavá, Romilda, professor Robson e o visionário Madjer do Marketing, que sempre apostou em minhas propostas mais audaciosas. Cada um deles, e muitos outros que passaram pelo clube até 2016, contribuíram significativamente para a nossa trajetória e têm minha eterna gratidão.

Durante aquele período inovador, nosso clube se destacou como o pioneiro ao lançar um site oficial, apoiado pelo amigo Josemir Bispo, Nakembele. Fomos pioneiros, sendo o primeiro time do Estado a ter redes sociais Facebook, Instagram, trabalhar com marketing digital, publicidade online, loja virtual, transmissões online de treinos e jogos amistosos.

Além disso, estabelecemos o revolucionário programa para época, o programa Sócio Torcedor do Clube, #Soucolorado. Minha gratidão é infinita ao meu irmão Diego Milhomem e aos amigos Marcel, Anndressa e outros colaboradores, que se dedicaram seu tempo ao desenvolvimento da tecnologia da utilizada no programa. Eles acreditaram na potencialidade desse sonho, contribuindo para que o projeto criasse vida, saísse do papel. Fizemos parte do Futebol Melhor da Ambev, único clube do Estado a participar deste programa.

Essa eficiência reestruturou o quadro de sócios torcedores e permitiu reorganizar os sócios patrimoniais, integrando-os ativamente à administração do clube. Assim nasceram os ‘sócios ouro’ que depois vieram a integrar ao quadro patrimonial do clube- entre eles Claudio Barbosa, Dr. Trombini, Coronel Sidinei, Dr. Reinaldo, Celson, o estimado Emerson e seu pai, que se uniram posteriormente.

Durante meu mandato como presidente em 2015/2016, empreendi todas as ações possíveis, e até mesmo o impossível para elevar o clube a novos patamares. Entramos no PROFUT, com o objetivo de resgatar a integridade financeira e a reputação do Comercial. Consegui sanar diversas pendências, removendo todas as certidões negativas que pesavam contra o clube. Uma pequena barreira permaneceu com um processo trabalhista do ex-zagueiro, técnico e diretor Laércio, que infelizmente restringiu a plenitude dos benefícios que poderíamos ter obtido. No entanto, não desanimamos. Pelo contrário, o orgulho de novo aos nossos torcedores nas arquibancadas e trazendo figuras emblemáticas como Aloísio Chulapa que elevou a imagem do clube ajudando a atrair grandes patrocinadores. Esses esforços coletivos foram a prova de nossa dedicação e compromisso com o legado do Comercial.

Inúmeras histórias permanecerão eternizadas em minha memória, as angustiantes lutas contra o rebaixamento e as vezes em que a possibilidade de retirar o time do campeonato se tornou uma realidade devido a adversidades financeiras, quando recebemos um cheque sem fundo do patrocinador e ex-presidente, Mangini, a diretoria se viu forçada pedir um empréstimo  de um bicheiro operariano que garantiu nossa permanência na competição e na série A daquele ano. Felizmente, consegui transformar a dívida em um patrocínio para o clube em 2014. Ou então a briga de facas entre jogadores na véspera da final de 2016 contra o 7 de Setembro Jacque da Luz.

Sob nossa liderança, o clube alcançou marcos notáveis, solidificando seu nome entre os 110 melhores do país no ranking da CBF, um feito que hoje, infelizmente, nem constamos. Nossa gestão foi marcada pelas classificações para os campeonatos Brasileiros da Série D de 2015, 2016 e 2017, além de duas participações na Copa do Brasil (2016 e 2017) e uma Copa Verde (2016). Divergindo de gestões anteriores, garantimos recursos para o futebol feminino, que pela primeira vez, avançou para a segunda fase da Copa do Brasil, alcançando o 46º lugar no ranking nacional e que hoje também não se encontra mais. Buscamos iniciar a construção do centro treinamento, com apoio da arquiteta e renovar a permissão de uso da área que foi perdida na gestão Mangini. Deixamos o clube com dinheiro em caixa a receber dos diretos da Copa do Brasil para pagar as dívidas da temporada de 2016.

Nesse anos como sócio patrimonial, mesmo afastado da diretoria busquei me qualificar com cursos de gestão na área do futebol para que um dia pudesse ajudar novamente o clube para achar soluções para novas receitas, busquei parceiros comerciais e com expertise internacional na gestão de clubes no exterior que quiseram comprar o clube, investir no clube, serem sócios da SAF do Comercial, mas fomos ignorados, com diversas barreiras e preteridos por parceiros da segunda divisão do futebol boliviano.

Embora me afaste como conselheiro do clube, meu coração sempre será Comercialino. Continuarei torcendo e apoiando, agora como um torcedor apaixonado, vibrando a cada gol e celebrando cada vitória enquanto o clube existir. As memórias construídas, as amizades forjadas e os desafios superados são tesouros que levarei comigo para sempre.

Deixo o clube não por falta de amor, mas por entender que minha jornada aqui cumpriu seu ciclo. O tempo, esse bem tão precioso, me chama para novos desafios, novos aprendizados e, claro, para dedicar-me  a minha profissional e pessoal.

Desejo ao Esporte Clube Comercial sucesso.

Com gratidão e carinho,

Ítalo Milhomem.

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