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Aparelho de R$ 50 pode evitar colapso da saúde e a compra de respiradores de R$ 220 mil

Um dos maiores cientistas brasileiros, Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do Consórcio Científico dos Estados do Nordeste para o combate ao Coronavírus (Covid-19), aponta que com poucos testes para o vírus, o combate deve ser enfrentado de frente, com isolamento social e buscando informações para frear o avanço da doença, que já matou mais de 5 mil pessoas no Brasil, mais do que a própria China, primeiro epicentro da doença no mundo. O projeto Mandacaru composto 1200 cientistas no Brasil e em seis outros países, em sua maioria brasileiros compartilhando informações sobre o covid-19.

Durante entrevista por videoconferência para o ex-ministro da educação, Fernando Haddad nesta segunda-feira (28), o cientista apontou estratégias para bloquear o aumento do contágio na região Nordeste e soluções mais econômicas para evitar o caos pandêmico no país.

Quando se fala enfrentar de frente a pandemia é utilizar os recursos disponíveis com inteligência. Nicolelis tem acompanhado diversos estudos pelo mundo sobre o tema e dados interessantes de países que enfrentaram a chegada do Covid-19 antes do Brasil.

Estudos nos Estados Unidos demonstraram que se a saturação do oxigênio de uma pessoa cair a baixo de 92%, ela estará entrando em um quadro grave, antes mesmo de desenvolver uma pneumonia característica do coronavírus.

“Esse equipamento de R$ 50 (reais), pode reduzir a necessidade de você comprar um respirador de U$ 40 mil dólares ( R$ 220 mil)”, comentou o cientista.

Nós emitimos a recomendação do uso do oxímetro, para que as equipes de médicos da família levam nas casas das pessoas no Nordeste e se possível, até deixar com as pessoas de risco”, revelou o cientista, que conta com um aplicativo, o Monitora Covid em que a população pode reportar sintomas e também o valor da saturação de oxigênio.

O pesquisador avalia que se milhares de pessoas tivessem oportunidade de ter o oxímetro, logo no começo da pandemia e você puder isolar as pessoas que estão sendo contaminadas e saber com quem elas conviveram nas últimas 48 ou 72 horas evitaria a demanda de equipamentos (respiradores) que não existe mais no mundo. 

Lembrando que os Estados Unidos mandaram várias vezes aviões cargueiros americanos buscar equipamentos e insumos para o combate ao covid-19, desabastecendo o mundo inteiro destes produtos. 

Brigadas Médicas

“O nordeste tem 15 mil médicos da família apenas, com o fim do Mais Médicos. Bom como vamos fazer? Tem 15 mil médicos brasileiros com diplomas fora do país disponíveis aqui, sem fazer nada. Eu sugeri ao comitê cientifico o recrutamento destes profissionais para incorporar a brigada contra o coronavírus por meio de um processo de revalidação junto com as universidades federais e estaduais com critérios rigorosos”, sugere Nicolellis.

Sem os testes o Consórcio do Nordeste tenta uma forma de saber como o vírus esta espalhando, antes do números oficiais subnotificados. Com padrão de trânsito da malha rodoviária do nordeste abalisado e com os dados de isolamento social dos aparelhos de telefones celulares, número de leitos disponíveis é possível criar perspectiva de riscos nestes Estados.

Economia

Nicolellis cita um debate que fez com ex-conselheiro financeiro do ex-presidente Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e a conclusão foi que. “O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é a única esperança para segurar o tsunami (covid-19).”

Beluzzo teria dito que seria necessário que o Estado Brasileiro pagar por toda conta, em que deveria ter dobrado o orçamento do SUS. “Você emite o dinheiro joga lá (na economia) e depois vê, igual aos Estados Unidos esta fazendo. Se fossemos fazer direito teríamos que injeta R$ 1 trilhão de reais. O Estados Unidos esta injetando R$ 10,2 trilhões de reais em um mês, mais que o Produto interno Brasileiro de 2019, que foi de R$ 7,3 trilhões.

Um futuro de pandemônio no Brasil e no Mundo

Para o cientista o momento no país é particular, pois estamos vivendo uma “pandemia no meu deu pandemônio”, com uma crise institucional e política gravíssima além da situação sanitária, em que o distanciamento social é a grande barreira para conter o avanço da doença no mundo inteiro.

Estudos da Itália, indicam que o país não tivesse feito o distanciamento social, ainda que tardio, teriam 45% a mais de mortes e mais 50% mais casos de contágio. Nicolellis dá o exemplo da Suécia, que ao contrário dos outros países da Escandinávia resolveu não implantar o distanciamento social, como a Finlândia, Dinamarca e Noruega que fizeram isolamento e distanciamento mais rigorosos e teve mais oito vezes mais mortes que os outros países europeus, com uma população pequena, mas que ultrapassou a barreira dos 2 mil mortos.

Um dos exemplos brasileiros, ele cita um estudos por cientistas do consórcio do Ceará, em que teriam duas perspectivas. A primeira potencial exponencial que cresceria e a que de fato ocorreu, após as medidas de distanciamento social adotadas pelo Estado do Ceará, em que após alguns dias mostra-se as curvas se desviando, registrando menos casos do teoricamente aconteceria, o tal, achatamento da curva. 

“Você não precisa saber nada de matemática, você só precisa olhar as diferenças das duas curvas”, cravou o cientista.

Isolamento social por meiode dados dos celulares, mostra que a média é de 50% nos estados do nordeste, principalmente, nas capitais, no entanto, esse percentual tem caido. 

“Nós não temos nem condição de discutir o relaxamento no Brasil, ainda. Porque estamos entrando na ascensão da explosão geométrica de casos. Aqui em São Paulo, por exemplo”

.Em sua análise, as cidades que tem aeroportos internacionais tiveram mais casos. A pandemia começou com as pessoas que trouxeram de fora do Brasil, nos bairros mais ricos e começou a se expandir para as periferias. Foi assim em São Paulo, Fortaleza, até em Campo Grande como já mostramos na matéria sobre o mapeamento de casos suspeitos e confirmados no no site Hora MS. Situações diferentes das cidades que não tinham voos internacionais. 

Na avaliação da situação do Nordese o pesquisador disse o consórcio têm obtido um sucesso aparente na desinfeção nas divisas regiões dos Estados, com o controle a interrupção de refego intermunicipais e interestaduais. 

Sobre as subnotificações de casos de covid-19, Nicolelis sugere que seja de 10 a 12 vezes a realidade no Brasil. 

“A coisa esta expandindo e ganhando velocidade”, alertou.

Segundo, essa situação não é só no Brasil, a subnotificação de casos nos Estados Unidos, que beira ao um milhão de pessoas contaminadas também teria 10 vezes mais casos reais.”Ou seja, existem dez milhões de americanos contaminados nesse momento”. O que significaria que o país já estaria mais de 500 mil casos reais e não a x quantidade de pessoas infectadas. 

Existe um quantidade de cidades, que estão em 187 sub-regiões no Nordeste, cerca de 112 das sub-regiões ainda estão com casos abaixo de 50 casos. A estratégia é ir para front, levar uma brigada de médicos de família até essas populações.

A única forma de ganhar essa guerra é ir aonde o vírus ataca a gente, e não operando em fluxos nos hospitais. Aí é tarde, você já perdeu a batalha”.

“tem gente escrevendo na folha, que os cientista estão querendo criar uma ditadura. Total absurdo”

“Todos os países, que desprezaram a pandemia, a pesar a ciência, fizeram troça, Estados Unidos, Itália e a própria Grã-bretanha e o Brasil, não precisa nem falar estão pagando um preço altíssimo”.

Incertezas de mortes por Covid-19

Miguel aponta que ainda é um grande mistério a subnotificações de mortes pela nova pandemia, pois há muitos casos de mortes de Síndromes Respiratórias Agudas Graves, que englobam pneumonias, insuficiência respiratórias, bronquite, asma. A Fiocruz testou parte destes óbitos com síndromes respiratórias agudas e chegou a conclusão que 73% dos casos testados são coronavírus.  Outra constatação é que os teste rápidos não estão sendo eficazes, isso no mundo todo, não só no Brasil. O número de óbitos seria bem maior. 

O nível de uma pessoa contaminando outras pessoas no Brasil esta em duas, na China ficou entre 3 e 4, em regiões da Itália com alta contaminação também. 

“Se você aumentar de 2 para 2,7, que não é um grande aumento na nossa realidade, o número de mortos vai pra cima tremendamente”, O índice de infectabilidade base dos casos subnotificados no Brasil, que não é a abaixo de 2 nesse momento”, estima o coordenador do consórcio. 

Quando o índice de contágio for de 3 pessoas para cada contaminado, as outras capitais podem vir a ver cenas como as covas coletivas em Manaus (AM), opina o professor.

Sobre ao relaxamento do distanciamento social, o cientista explica, que se a taxa de contágio for de uma pessoa para outra, ou seja um para um, significa que você estabilizou o contágio, se você uma taxa menor que um, significaria que o contágio estaria em regressão, em que estaríamos vencendo a vírus. A avaliação terá de ser feita com base no índice de contágio, mortalidade e de leitos comuns e de unidade de terapia intensiva (UTI) disponíveis para saber qual o momento que se pode chegar em um colapso ou abertura social. 

Letalidade

Outro alerta feito pelo cientista é de que estudos recentes em metropoles mundial tem registrado uma grande letalidade, porem casos que não são de Covid-19, e sim de outros doenças e comodidades que se agravam com a falta de infraestrutura hospitalar, que está saturada pelo coronavírus, onde chega a ocupar 90% da capacidade hospital em algumas cidades hiper-contaminadas.   “Se a pessoa chega com infarto, para onde ela vai? Não tem para onde ela ir”.

Vej a entrevista completa:

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