Fevereiro começou quente, com eleições para a Câmara e o Senado e a rodada GenialQuaest de pesquisas presidenciais. Por João Henrique Faria *
Correr risco. Ousar uma análise mais particular. Este é o artigo. Sem grandes certezas, mas percorrendo os indícios, os sinais deixados pelos protagonistas de nossa história política recente, que prometem manter-se no cenário por um bom tempo.
Então, lanço um olhar a estes “novos tempos”, que miram um futuro próximo: 2026.
Dia 1º de fevereiro de 2025. Um sábado. Câmara e Senado cheios. Eleição das Mesas Diretoras. Eleitos: Hugo Motta (Republicanos) e Davi Alcolumbre (União), respectivamente, para cada Casa.
Um vídeo com o novo presidente da Câmara, Hugo Motta, certamente elaborado e produzido com antecedência, visto que as eleições eram favas contadas, chama a atenção, em especial do mundo político, inclusos aí os profissionais do Marketing Político, sempre atentos.
Correndo todos os riscos, como dito no início deste texto, expus a minha análise sobre o material nos grupos do CAMP – Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político e no Compol Brasil, dos quais tenho a satisfação de fazer parte. Segue, com acréscimos.
Uma sinalização:
deixar de ser
coadjuvante
O vídeo é bom, porque inclusive não quis a perfeição. Mostra até mesmo as pequenas dificuldades do ator (político) para gravar pautado. Ao que parece, inicia-se uma nova formatação do entendimento do que seria “Centro”, demonstrado na fala: “Porque o Centro não é a ausência de posição. É a ausência de preconceitos”. Será?
Indica o desejo do Centro de investir em outros voos, de deixar de ser coadjuvante – falo do voo para o Executivo, não o do Legislativo, que está dominado há tempos.
Vamos ver se a narrativa cola. Lá no início do vídeo, já veio um tom bem publicitário, para ser o abre-alas para esta nova narrativa. É o que segue.
“Polemizar,
polarizar,
mas sem paralisar”
De fato, um vídeo que pode ser um indicador. Da mesma forma que a entrevista do novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmando que não é hora para pautas controversas, que tragam conflitos fortes, referindo-se à tentativa da extrema-direita de pautar a tal da “anistia para os golpistas do 8 de janeiro”.
Parece um Centro que vai buscar caminhos próprios, que não quer mais ser fisiológico e ficar nas amarras da pressão para conseguir espaços, mesmo que, neste primeiro momento, haja indicativos de que, por contraditório que seja, esta busca por espaços no Governo Federal deva se intensificar.
É pagar pra ver, a começar pela pesquisa presidencial da GenialQuaest.
Apesar da queda,
Lula venceria todos
em um 2º turno
Mal ocorrem as eleições para a Câmara e Senado, uma pesquisa GenialQuaest é divulgada. Há uma queda significativa do Lula, quando todos – e põe todos nisso! – os nomes são colocados ao mesmo tempo. No entanto, Lula ainda vence todos no segundo turno, com margem mínima de 9 pontos percentuais, chegando a mais de 20 em alguns casos.
Neste momento, considero até natural o resultado geral, pelo desempenho do governo e todos as discussões sobre os diversos motivos para isso: inflação, preço dos alimentos, falta de agenda, ausência de uma marca de governo, enfim, mistura tudo isso aí e o “mexidão” transforma-se em uma receita bastante indigesta para o governo Lula.
Também é natural a presença de Lula em primeiro nos cenários de segundo turno, pela liderança que exerce, pela história, pelo fato de ser o único nome que se aproximaria de um projeto de esquerda, mesmo levando seus governos à base da coalizão, que sempre atendeu partidos de centro e de direita, pautado na necessidade de governabilidade.
Eleições 2026:
uma arena onde
todos se jogam
Neste ano, preparatório para o ano eleitoral, todos se jogam na arena. Natural isso. Do outsider Gusttavo Lima, passando por Tarcísio de Freitas, Marçal, Ratinho Jr, Caiado, Zema…
Fácil notar o fracionamento da direita, um dado importante nesta pesquisa. No entanto, estamos pelo menos a um ano e meio do início da disputa eleitoral. Existe a clara possibilidade do afunilamento da disputa, com alguns candidatos à direita desistindo do pleito nacional.
Ao governo Lula, cabe reagir. Já está fazendo, mas precisa tempo para sabermos se esta reação irá se transformar em percepção. Agora, as pesquisas são observações de cenários possíveis. Não mais que isso. E aquelas questões que sempre devem ser ponderadas, como é o caso da prevalência da reeleição. Após o início da possibilidade de reeleição, dos que concorreram, somente Jair Bolsonaro não conseguiu sucesso. Uma derrota que não ocorreria sem Lula na disputa.
Após as Eleições
2024, espera-se
o “efeito Kassab”
Importante avaliar também, na perspectiva das eleições presidenciais de 2026, o protagonismo do PSD, que conquistou, individualmente, o maior número de prefeituras (885) no pleito de 2024. Todos sabem que Gilberto Kassab sabe fazer o jogo e que sua decisão sai só aos 45 minutos do segundo tempo, após muitas negociações. De um lado, uma boa relação com Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo. De outro, a provável candidatura do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), ao governo de Minas Gerais, e a presença forte do hoje ministro de Lula, Alexandre Silveira, liderança forte do PSD no estado.
De fato, as definições (acordos) estaduais e o avanço ou não da aceitação do governo Lula e consequente crescimento de viabilidade eleitoral do presidente, serão definidoras para um posicionamento definitivo do PSD. Um novo fiel da balança nas eleições presidenciais?
O jogo está sendo
jogado e o ano
apenas começou
Com todas as ponderações que possam ser feitas em relação aos movimentos a serem implementados no ano de 2025, com vistas a 2026; por mais que seja claro que pesquisas neste momento apontam para um cenário, cujo objeto ainda é bem distante; por mais que o jogo esteja apenas começando e que muitas pedras ainda serão mexidas, passando pela atuação dos eleitos presidentes da Câmara e do Senado; o certo é que a máxima de que o país começa a funcionar depois do Carnaval, não prevaleceu. E a gente vai acompanhando, passo a passo, os movimentos da política nacional. Algo nada fácil. Sempre de olho no pêndulo, para onde ele vai. Lembrando: 2026 tá ali, na portinha.
João Henrique Faria é jornalista, estrategista político com experiência em mais de 100 campanhas para o Executivo e Legislativo. Professor da pós-graduação em Comunicação Pública e Governamental da PUC-Minas. Criou e coordenou a Pós-Graduação em Marketing Político, na Escola do Legislativo da ALMG. Trabalhou em assessoria na ALMG por 11 anos. É proprietário, desde 2003, da Fator Inteligência e Marketing, presidente do Conselho de Fundadores d Coletivo de Estrategistas Alcateia Política e membro do CAMP - Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político.
joaohenrique.fator@gmail.com
www.alcateiapolitica.com.br