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O mercado brasileiro de futebol movimentou R$ 2,5 bilhões, qual é a fatia do MS neste bolo?

No artigo anterior, mostrei que o futebol em Mato Grosso do Sul (MS) impulsionado pelo setor público e privado movimentou R$ 3,7 milhões em 2019, mas qual é a fatia do mercado que nosso Estado participa nesta indústria do futebol Brasileiro?

O país da pelota é o maior exportador de mão de obra para o futebol Mundial e em 2020, mesmo durante a pandemia, movimentou R$ 2,5 bilhões em transações de vendas de jogadores, empréstimos, pagamentos de comissões a intermediários, indenizações e mecanismo de solidariedade entre clubes de futebol. 

Em uma aula de análise de desempenho da CBF Academy, o professor fez uma provocação usando o nosso Estado como referência, o que me oportunizou refletir muito sobre o potencial adormecido do MS no mercado da bola. 

Desconsiderando o abismo social, econômico e populacional do exemplo dado, Mato Grosso do Sul tem quase o mesmo tamanho da Alemanha (MS -357.145 km – Alemanha 357.386 km), e duas vezes o tamanho do Uruguai, Quantos talentos ou seleções poderiam ser descobertos ou formadas dentro do MS, quantos jogadores e jogadoras poderiam rentabilizar recursos aos clubes/empresas locais ?

A grande pergunta é sempre essa, por que os clubes daqui não investem primeiro na formação deste jogadores, que são seus ativos, para depois pensarem nas disputas profissionais? Sempre pensam nos prêmios da Copa do Brasil e cia… um erro recorrente, e que eu já errei como presidente do Comercial-MS no ano de 2015/2016.

Na questão de base, não estamos tão diferente do vizinho Mato Grosso. Em entrevistas, um dos gestores da família dona do Cuiabá (MT), nosso parâmetro mais perto de sucesso do futebol profissional nas últimas décadas, afirma que trilharam o caminho inverso, se preocuparam em serem primeiro a vitrine, estarem na série A para depois formarem jogadores próprios. Agora que estão construindo um Centro de Treinamento para Base e aguardam a mudança na legislação do futebol com as Sociedade Anônimas do Futebol (SAFs), que possibilitará que empresas também tenham incentivos fiscais por meio da Lei de Incentivo ao Esporte Federal com desconto de impostos de renda, como é na Lei Rounet, mas esse assunto em si ficará para outro artigo.

Dados do MS

Nas prestações de contas disponíveis no site da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), dos 12 clubes que disputaram a competição, nenhum dos oito que divulgaram suas informações internas citou em suas receitas de venda de jogadores, empréstimos de jogadores, ou mesmo os ativos de jogadores com percentuais de direitos econômicos, receitas de mecanismos de solidariedade de venda de atletas, que passaram pelo clube dos 13 aos 23 anos, por exemplo.

Seria ilusão eu dizer que venderíamos um jogador direto de Campo Grande (MS) para um grande time internacional, que renderia milhões de dólares, euros e mudar a vida de jogadores e dos times locais. Mas o papel dos clubes como os do MS é esse, abastecer outros times maiores, as vitrines do futebol brasileiro, onde os ativos vão se destacar e ganhar visibilidade para alguma transação grandiosa futuramente, gerando renda para disputar os campeonatos profissionais com qualidade.

Cada vez mais jogadores jovens vão das escolinhas de futebol direto para a base de clubes dos grandes centros sem passar por clubes e associações federadas ao sistema CBF/FIFA, com isso não gera indenizações aos clubes locais.

Mecanismo de Solidariedade 

O saudoso amigo e radialista esportivo Joel Silva sempre cita a venda de um jogador do Goiás (GO), que possibilitou que o clube se organizasse e se tornasse uma potencia do futebol do Centro-Oeste, o grande lance é esse, lucrar e investir o dinheiro da venda destes jogadores para que se tenha sempre receitas e times competitivos nas divisões nacionais.

O Mirassol também é um case, tinha 30% do direitos econômicos do atacante Luiz Araújo do São Paulo (SPFC) que foi vendido ao Lille, da França por €  10 Milhões , com dinheiro foi investido um moderno Centro de Treinamento para formação de novos jogadores e para equipe profissional que subiu em 2020 para a Série C.

Outro exemplo envolve o pequeno time do Serrano (PB) e o atacante Hulk que foi para o Zenit, da Rússia, em 2013, e rendeu ao Serrano (PB), time que estava fechando as portas, cerca de R$ 500 mil (0,25%) do valor da transação de R$ 128 milhões e salvou o clube, que possibilitou seu renascimento. Anos depois, outra transação para o China também remunerou o time. Quantos clubes sul-mato-grossenses vão atrás dos seus direitos financeiros em nível internacional ? Esse tema vou tratar logo a frente.  

Em Mato Grosso do Sul tivemos o caso emblemático do Keirisson, que saiu do modesto Cene (MS) do Reverendo Moon, passando pelo Curitiba (PR) e Palmeiras (SEP) até chegar ao Barcelona (ESP) por € 15 milhões, na época daria R$ 45 milhões, hoje seriam R$ 100,6 milhões. O presidente Rodrigues afirmou que a transação poderia gerar dividendos de R$ 750 mil.  E as outras transações onerosas, o clube foi atrás ? Nunca se foi falado no meio do futebol ou da imprensa local de outras indenizações recebidas pelo clube por este jogador, que teria direito.

O jogador sul-mato-grossense Ismaily , ex-seleção brasileira e hoje atuando pelo Shakhtar Donetsk, jogou toda sua base e se profissionalizou sendo campeão pelo Ivinhema (MS) em 2008, quando tinha 18 anos. Sua passagem pelo Desportivo Brasil, Olhanense (PT) , Braga (PT) e Shakhtar Donetsk (UCR) gerou dividendos ao time do MS, teoricamente teria que gerar. Aparentemente ele não recebeu. Ele foi vendido ao Shakhtar por 4 milhões de euros, por ter jogado até aos 18 anos pelo time local, teria direito a 1 % (0,25% por cada ano dos 13 aos 15 anos) e outros 1,5% (0,5% por cada ano dos 16 aos 18 anos), totalizando 2,5%, algo em torno de R$ 670 mil atualizados.

Hoje no Centro de Formação de Atletas Colorado – CEFAC/Esquerdinha, tem um atleta que jogou parte da base e disputou competições oficiais pela Federação e CBF, passou pelo Grêmio Prudente (SP) e hoje está no São Paulo Futebol Clube (SPFC), o zagueiro Diego Costa, em que estamos conversando com FFMS para que conste essa passagem pelo CEFAC/Esquerdinha no passaporte Fifa para que caso ocorra alguma venda deste atleta, o clube possa receber os mecanismo de solidariedade.

Isso falando de um jogador, quando outros talentos estão perdidos e poderiam gerar lucro de até um ano de folha salarial de um time profissional estadual?

Atualmente apenas um clube do Centro Oeste, o Goiás tem a licença de clube formador que têm benefícios e travas jurídicas que garantem direitos a mais ao negociar jovens promessas do futebol. Já pensou se todos os clubes sul-mato-grossense tivessem essa visão e tirassem suas licenças de formador, poderíamos não ser o melhor federação entre os profissionais, mas seríamos gigantes ma base.

Apesar de bons projetos, mas ainda não suficientes, que têm formado boas equipes de base como Seduc (Anastácio), Grêmio Santo Antônio (CG) e União ABC (CG), ainda não participamos do bolo da indústria do futebol brasileiro.

Ítalo Milhomem, jornalista formado pela UFMS, ex-presidente do Esporte Clube Comercial-MS e acadêmico da especialização em Gestão de Futebol pela CBF Academy

Dados de transações de jogadores em 2020

Foram realizadas 1.220 transações do exterior para o Brasil, sendo 25 empréstimos (R$ 84.222.871,00) e 33 vendas de jogadores (447.343.400,00) e 704 jogadores que vieram de outros países sem contratos profissionais, então envolveu valores. 

Já do Brasil para o outros países foram realizadas 1.610 transações, 580 sem contrato e sem movimentação financeira, 22 dois empréstimos (96.735.240,00) e 82 vendas para o exterior que movimentaram R$ 1.585.923.202,00

A transferências nacionais envolveram R$ 291.618.00,00 reais entre os times brasileiros, internamente, negociações que geraram indenizações de quebra de contrato e outos mecanismos. 

TRANSFERÊNCIAS NACIONAIS

Total: 40 (R$ 291.618.000)

As conversões do câmbio consideram o Dólar Americano a R$ 5,30 e o Euro a R$ 6,44

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