ColunasEducaçãoGeral

A Educação como Instrumento Transformador – Dá para Acreditar? Por Bento Duailibi

Estamos iniciando o ano letivo das escolas, e quando se fala em ensino, educação, escola pública, etc. não se encontra um pensamento comum, existem diversos e amplos conceitos, mas estamos vivendo, na verdade uma miscigenação de ideias e direcionamentos que não tem um senso comum. Isso preocupa, porque as vezes nos parece que há um descuido de toda a sociedade para um setor vital para a existência e evolução, e nunca se acha uma conclusão coerente sobre o tema.

                                    Há muito estamos vendo a educação brasileira passar por transformações, especialmente nos anos 80, e com a constituição de 1988, com base nos Direitos e Garantias Fundamentais como o de liberdade de expressão, igualdade, etc. essa transformação ganhou grandes proporções.

                                    Mas, tal foi para melhor? O que realmente mudou na educação brasileira? Fui professor na graduação universitária durante 24 anos ininterruptos e sou apaixonado pelo magistério, creio não ter outro instrumento melhor para evolução da sociedade, a não ser a educação, mas com certeza estamos falhando em algum momento.

                                    A escola pública está perdendo o seu valor, os professores são mal remunerados e na sua grande maioria está na atividade mais por amor do que essencialmente pela contrapartida, isso também é fato. Nesse momento de mudanças de governo e eleições municipais se aproximando, seria a chance de dar uma oportunidade para a educação como transformadora da sociedade. Claro que é um tema muito delicado, com muitos pensamentos diferentes, mas o que se tem hoje são dados de pesquisa e resultados que precisam ser levados em conta.

                                    E para isso precisamos dar equilíbrio nas vertentes e ideias diversas, ver o lado positivo de cada, para somar um bom resultado final. Há uma grande polêmica, em torno, por exemplo dos Colégios Militares, os críticos afirmam que tal pode direcionar a criança a um pensamento contrário as diversas liberdades, mas é incontestável o resultado alcançado pelos colégios militares. Será que a disciplina rígida não faz bem para as nossas crianças?

                                    Não que tal condição teria que ser obrigatória, não é isso que se pretende discutir, mas sim métodos, e também nas Universidades Públicas, que estão em abandono em sua grande maioria.

                                    Recentemente em cadeia nacional, uma emissora de televisão apresentou reportagem sobre a educação na China, foi possível observar que um país que está em foco, sendo observado pelo mundo todo, pelas mais variadas razões, e ficamos sabendo que a educação chinesa é muito famosa, principalmente pela grande disciplina que exige.

                                    Segunda a visão da educação chinesa, a rigorosidade, disciplina e competitividade são as suas principais características. E essas características garantem papel de referência mundial no cenário internacional. Além disso, o sistema educacional chinês é tão eficiente que a alfabetização do país beira a 95% da população, o que é impressionante. E o que chama ainda a atenção é que o ensino chinês é obrigatório e gratuito a todos até os 15 anos de idade. As avaliações rigorosas começam desde cedo e a pressão começa logo no início da vida escolar das crianças.

                                    E nos últimos anos, a China revolucionou sua economia graças aos seus investimentos expressivos em educação, que melhoraram a qualificação dos profissionais do país e estimularam o desenvolvimento desta nação. Para se ter uma ideia do nível de qualidade da educação na China, apenas em Xangai os alunos alcançaram o primeiro lugar em todas as áreas de conhecimento, matemática, ciências e leitura, na avaliação do teste PISA, que mede o nível da educação internacional entre jovens.

                                    O governo chinês tem investido muito na educação básica, que já é prioridade no Plano Nacional de Reforma e Desenvolvimento de Educação a Médio e Longo Prazo. A China está modernizando seu sistema educativo, e tem o objetivo de se tornar uma referência em educação de qualidade até 2030.

                                    A evolução da educação no país está acontecendo do nível pré-escolar à universidade. O país pretende eliminar completamente o analfabetismo através de um investimento prioritário em educação.

                                    Para os especialistas, a educação que os estudantes chineses recebem hoje deve ter uma forte influência sobre a política do país em 2030. Os estudantes da China têm atualmente uma formação mais aberta, com o estudo de inglês desde cedo e com o estímulo a programas de intercâmbio no exterior.

                                    As disciplinas básicas também contam com o apoio da tecnologia mais avançada disponível no mundo. O governo da China espera investir entre 4,5% e 4,8% do seu produto interno bruto (PIB) na área da educação até 2030.

                                    Não podemos comparar inicialmente a educação chinesa com a do nosso país, mas seria uma referência naquilo que é positivo. A liberdade de expressão e demais garantias fundamentais da Carta Magna de 1988 também tem que ser observada, mas o fato é que não estamos tendo sucesso nas nossas escolas públicas no tocante a resultados positivos, isso também é um fato. O que estamos vendo são tragédias, com vidas de jovens sendo tiradas sem qualquer razão, a evasão escolar em nosso país tem números alarmantes, e não estamos vendo há muito políticas públicas concretas e coerentes para reverter isso.

                                    A escola deve desenvolver conhecimentos, capacidades e qualidades para o exercício autônomo, consciente e crítico da cidadania. Para isso ela deve articular o saber para o mundo do trabalho e o saber para o mundo das relações sociais. E não estamos vendo isso na grande maioria das escolas públicas.

                                    Enfim, pode-se afirmar que um dos grandes desafios da educação brasileira hoje é não somente garantir o acesso da grande maioria das crianças e jovens à escola, mas permitir a sua permanência numa escola feita para eles, que atenda às suas reais necessidades e aspirações.

                                    Finalmente, uma educação de qualidade tem na escola um dos instrumentos mais eficazes para transformação social e fazer um país grande. A escola transforma-se quando todos os saberes se põem a serviço do aluno que aprende e o reproduz. Esta escola torna-se, verdadeiramente popular e de qualidade e recupera a sua função social e política, capacitando todos os alunos para a participação plena na vida social, política, cultural e profissional na sociedade.

                                    O que não pode ocorrer é a inversão de valores, falta de respeito com professores e colegas com pratica de bullying, etc., e mais tem que haver o compromisso dos pais ou responsáveis na cobrança insistente dos seus filhos, e mostrar que a escola pode transformar a vida de qualquer pessoa, e ainda exigir deles que não desrespeitem ninguém, pois educação familiar é de extrema importância também. A educação familiar não pode ser terceirizada, o respeito pelos professores, o respeito ao próximo e mais velhos são de responsabilidade dos pais e não da escola, a escola é local de formação e preparação para a vida em sociedade e direcionamento para uma vida profissional.

                                    Estamos diante de uma oportunidade de transformação da educação em nosso país, mas tal não pode ser uma disputa de espaço político, tem que ser desenvolvido um projeto para resultados a longo prazo, com continuidade para que o objetivo seja alcançado.                Infelizmente, nos ultimo 30 anos o que se vê é um mercantilismo com a educação brasileira, o ensino superior praticamente virou uma atividade empresarial, com pouco compromisso com a formação do jovem, parece que o Estado quer “repassar” uma obrigação sua, não que o ensino particular não tenha qualidade, não é isso, mas tem que haver um compromisso maior do Estado, afinal temos que tomar bons exemplos, assim como China, outros países que dedicaram muitas políticas públicas para o setor educacional (Alemanha, Japão, Coréia, entre outros) estão colhendo frutos depois de décadas. Educação, eu acredito.

Por Bento Adriano Monteiro Duailibi

Advogado, Professor Universitário,

Pós Graduado em Direito Civil e Metodologia do Ensino Superior, Membro da Academia Maçônica de Letras de MS.

Deixar um comentário