Entre 2020 e 2021 houve desmatamento em 602 dos 3.429 municípios que compõem o bioma Mata Atlântica, 17% do total. Dez cidades, no entanto, concentraram 27% das derrubadas no período – todas elas situadas em quatro estados: Minas Gerais, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul, com a cidade de Bodoquena.
As informações são do Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram desmatados no período 21.642 hectares (ha), um crescimento de 66% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 (13.053 ha).
Baianópolis, na Bahia, desmatou 1.685 hectares e aparece no topo da lista. Antes, entre 2019 e 2020, o município havia registrado 30 hectares desflorestados, o que representa um aumento de mais de 5.500% na área devastada entre as duas medições.
As demais cidades entre as dez primeiras do ranking são São João do Paraíso (MG, 700 ha desmatados), Nova Laranjeiras (PR, 679 ha), Setubinha (MG, 506 ha), Cotegipe (BA, 445 ha), Wanderley (BA, 431 ha), Rio Vermelho (MG, 396 ha), Bodoquena (376 ha), Capitão Enéas (MG, 347 ha) e Jequitinhonha (MG, 324).
O volume chama atenção. Se no período anterior dez municípios somavam 2.483 hectares desmatados, agora esse número chega a 5.895 – mais que o dobro. Para Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica, o aumento do desmatamento em um ano preocupa tanto do ponto de vista local quanto nacional e até mesmo global.
“É muito grave que tenhamos um único município destruindo, todos os dias, uma área de Mata Atlântica equivalente a quatro campos de futebol. Trata-se de uma situação crítica para todos os habitantes de Baianópolis, pois afeta diretamente a qualidade do ar, a regulação do clima e a água que elas vão beber. E as consequências não são apenas locais. Além de mais de 70% da população e 80% da economia brasileira se concentrarem na região, a Mata Atlântica é um dos biomas que precisam ser restaurados com mais urgência para atingirmos a meta de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris. Mas não apenas estamos replantando muito pouco como voltamos a destruir cada vez mais”, alerta.
Os 50 municípios que mais desmataram se concentram em seis estados, com 11.275 hectares derrubados (52% do total). Mais da metade, 29, estão localizados em Minas Gerais.
Os demais estão na Bahia (7), no Paraná (7), no Mato Grosso do Sul (3), no Piauí (3) e em Pernambuco (1).
Bonito, que encabeçou a lista de 2019/2020, reduziu a área derrubada de 416 para 193 hectares, porém a situação ainda é alarmante – principalmente para uma cidade cuja economia é voltada para o ecoturismo.
Luís Fernando reforça que as informações levantadas pelo Atlas são oferecidas às autoridades públicas para que verifiquem a legalidade dos desmatamentos detectados e tomem as devidas medidas de fiscalização e punição. Ele reforça, no entanto, que quase a totalidade dessa devastação é ilegal: o bioma é protegido pela Lei da Mata Atlântica, que proíbe o desmatamento a não ser em raras situações – como a realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública. “O respeito à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os primeiros passos para começarmos a reverter essa situação. E mesmo os desmatamentos com licença ambiental são imorais num bioma já tão degradado”, completa.
Diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro ressalta que a Mata Atlântica é um dos biomas nos quais a contribuição dos futuros governantes pode ser mais efetiva para o avanço na agenda climática e de desenvolvimento mundial. Com isso em vista, a organização preparou o documento Retomar o Desenvolvimento, carta com propostas urgentes para o meio ambiente, que tem sido apresentada a candidaturas à presidência da República, ao Congresso Nacional, aos governos estaduais e às Assembleias Legislativas. “Os compromissos apresentados no documento podem ser plenamente atendidos até 2030 e precisam constar dos programas de governo dos futuros mandatários”, completa Malu.